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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

um enigma que desabrocha na gestão de Lula

Transcrevo escritos do cineasta Rosemberg Cariry destaca pluralidade como marca da gestão cultural. Aplaudo pela lucidez e reconhecimento do que de fato foi despertado...

"Gilberto Gil e Juca Ferreira chegaram ao Ministério da Cultura com uma proposta inovadora: fazer um do-in cultural nos pontos sensíveis das culturas da nação brasileira. Nestes oitos anos, fizeram muito mais do que inicialmente se propuseram, pois não apenas massagearam os pontos-chacras da nação brasileira, mas permitiram a eclosão de energias vitais há muito reprimidas e testemunharam o povo acordando as suas heranças de humanidade e civilizações, para refundar a civilização tropical, herdeira de mil povos e de mil culturas, reunidas sob o signo da generosidade e da brasilidade.

Este movimento, aparentemente singelo, tem o significado de grande transformação, pois colocou um ponto final na Semana de Arte Moderna de 1922, a mais longa e penosa semana da nossa história. Se, em 1922 (época em que o povo já era pós-moderno e fazia o seu próprio renascimento cultural sob o signo da pluralidade e do sincretismo), a burguesia cafeeira paulista precisava de uma nação para legitimar-se como a locomotiva modernista-futurista do progresso (e da “ordem” elitista bem disfarçada no slogan da “desordem”), e pregava a violência da antropofagia fundadora, o novo processo, posto em movimento pelo MinC a partir de 2003, não precisou canibalizar uma nação para afirmar os seus enunciados espirituais, visto que apenas deixou fluir, ou canalizou, quando possível, a própria nação em movimento, em um ritual de comunhão em que o povo não mais canibaliza o universal para reafirmar o particular, mas aceita-se universal e recria o mundo na aldeia.

Não posso deixar de reconhecer a coragem com que foram enfrentados os privilégios e os preconceitos das elites. Não posso deixar de aplaudir a ação republicana com a qual foram democratizados os acessos aos meios de produção simbólica. Não posso deixar de reconhecer o esforço com que se lutou para que fosse legitimado o pacto federativo (constitucional) e fazer mais justa a distribuição dos recursos da nação para toda a nação, não apenas para uma região historicamente concentradora de rendas e privilégios.

Emerge deste processo histórico, rico e complexo, um Brasil que, reconhecendo-se plural – e, portanto, Brasis –, mais do que nunca se afirma como Brasil singular. Um Brasil que, reconhecendo-se como civilização nova, mais do que nunca se afirma como “encontro” de civilizações. Todas as tabas, todos os terreiros, todas as torres de marfins, todas as taperas, todas as academias, todas as tribos urbanas, todos os ritmos e todos os sonhos. Todas as culturas e todos os povos que se reinventaram Brasil. Identidade em construção.

Acredito mesmo que, no Reino do Juremá, lugar do além, onde ficam os santos-pecadores e os pajés que se encantam, Darcy Ribeiro deve estar comemorando em um cósmico Toré. Afinal, cumpre-se a sua profecia, e o Brasil anuncia-se como uma Roma Tardia, não apenas da neolatinidade, mas na magia reveladora das centenas de línguas e símbolos que nos decifra ao decifrar o mundo. Somos um enigma que desabrocha. Flor Universal.

Não é por acaso que tudo isto aconteceu na gestão de Luiz Inácio da Silva, um homem do povo, que foi legitimado pelo povo por meio do voto e, mundialmente, transformou-se em um símbolo da sabedoria deste mesmo povo, sem nem mesmo precisar ser um herói."


° Rosemberg Cariry nasceu em Cariri (CE). Filósofo de formação, estreou como cineasta em 1975. Já roteirizou, produziu e dirigiu documentários, curtas, médias e longa-metragens. Suas obras, marcadamente humanistas, lhe valeram diversos prêmios nacionais e internacionais

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Informações do Departamento de Comunicação do MINC

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